Uma vez perguntaram a Sidarta Gautama: “O que você ganha com a meditação?”
Ele respondeu, “Nada! No entanto deixe-me te dizer o que eu perdi com ela: raiva, ansiedade, depressão, falta de empatia, insegurança e medo.”
Por muito tempo eu tenho me dedicado a meditação como uma prática religiosamente executada todos os dias, exatamente no mesmo horário (de manhã ao acordar) e sempre com a mesma duração (10 minutos), porém por motivos que só eu posso assumir a responsabilidade e mudar, ao invés de me deixar entrar no piloto automático e transferir a culpa para terceiros, estou a praticamente a 2 semanas sem meditar por conta de um projeto no meu trabalho que bagunçou completamente a minha rotina.
Confesso que já fazia algum tempo que eu não observava mais as grandes mudanças que eu sentia lá no início da minha jornada na meditação. Bem no começo, eu me sentia verdadeiramente num processo exponencialmente crescente de quase iluminação, que fazia com que eu me sentisse a cada dia ainda mais conectado com o mundo, expandindo absurdamente minha compreensão do universo e da realidade.
Era como se eu fosse um foguete que ao ligar as suas turbinas para sair da inércia aumentava sua velocidade e altitude rapidamente para se lançar numa jornada de descoberta rumo ao espaço sideral.
Porém, tudo o que sobe tende a descer, e isso não é diferente da roda gigante de altos e baixos que é a nossa vida. E acredito que assim como em qualquer esporte, atingi um platô e minha curva de evolução reduziu drasticamente.
Falha não! Aprendizado…
Na vida devemos tirar aprendizado de tudo, e mesmo em nossas falhas não podemos ter vergonha de assumir os nossos próprios erros, pedir desculpas, e, acima de tudo, prontamente ajustar o nosso curso e sair do piloto automático trazendo para a nossa consciência o que está errado e precisa ser melhorado.
O aprendizado que tirei deste meu recente desvio de curso foi que eu perdi o meu centro, e me deixei novamente sucumbir ao meu “ego” – o que EU acho, o que EU vivo, o que EU experimento, o que EU acho que as pessoas deveriam fazer, como EU acho que elas deveriam viver.
Tudo o que perdi com a meditação, eu acabei “ganhando” novamente sem ela… Raiva, intolerância, falta de compaixão, desconexão com o momento presente. Um redemoinho de sentimentos gerados pela confusão mental do estresse me colocaram num estado emocional com total ausência de paciência… Observei que estava falando mais que do que ouvindo, e nem se quer deixava as pessoas terminarem de falar o que tinham pra falar pois eu já estava ansioso para cortá-las no meio e respondê-las de vez.
Nós tendemos a pensar na meditação como uma “atividade” que adiciona alguma coisa em nossas vidas
Nós sempre pensamos em termos de benefícios, que tudo na vida se resume a valores adicionados: estamos ganhando algo.
Mas existe algo que preciso compartilhar para quem sabe, te ajudar a mudar a perspectiva de como você vem encarando a realidade! De fato nos sentimos mais felizes e contentes quando nós TEMOS as coisas, sentimentos, relacionamentos, ou estados de “ser” (lê-se máscaras e personalidades vestidas) que desejamos.
Mas existe um jogo de dar e receber no universo.
Não podemos receber sem dar nada em troca, então se você tem se confrontado com o sentimento de que os efeitos da meditação não estão mais te ajudando – que você não está obtendo mais nenhum benefício disto, talvez, ao fazer como eu fiz, mudando a nossa perspectiva do que deveríamos estar recebendo para o que na verdade estamos abrindo mão, com certeza seria mais benéfico.
Deixe-me te ajudar com o ponto de vista científico…
Você está abrindo mão da tendência de ser dominado pelo piloto automático (lê-se amígdalas!)
As amígdalas são duas massas em formato de amêndoas inseridas no tecido nervoso do nosso cérebro.
Os neurocientistas acreditam que elas são parte integrante do nosso sistema límbico, ao qual é o responsável pelas emoções, reflexos, instintos de sobrevivência e memória. As amígdalas são também responsáveis pelas percepções que temos da realidade e nossas emoções incluindo medo, tristeza e raiva.
Elas são o “centro de estresse” do nosso cérebro.
Normalmente, quando percebemos o perigo, entramos no modo de fuga, resistência, luta ou paralisia (a resposta ao estresse); e quando o perigo passa, retornamos ao estado de equilíbrio, o nosso centro.
Entretanto, o estresse moderno tem a maior tendência a serem mais de natureza emocional do que física, e elas geralmente giram em torno de perdas (perda do lar, tempo livre, dinheiro, relacionamentos, status, aceitação, etc).
Pior ainda, o estresse emocional tem a tendência de crescer e se acumular pois eles não são facilmente liberados por ações físicas, como no caso de perigos ou tensões físicas como por exemplo nas atividades físicas de alto impacto e esportes extremos.
Se você está sendo atacado, ou você foge, ou luta, ou se esconde, e uma vez que o perigo deixa de existir, você relaxa novamente. Mas você não pode fugir de problemas no trabalho ou dificuldades financeiras por exemplo, e mesmo que você saia para uma corrida você se sentirá bem a curto prazo, mas o agente estressor continua a influenciar você.
O Estresse Emocional vive APENAS em sua mente inconsciente
Não se trata de uma ameaça física, se trata de uma ameaça que VOCÊ CRIOU através da sua imaginação ou se apegando ao sofrimento constantemente remoendo os seus problemas.
Este é o principal motivo pelo qual a meditação é uma das melhores maneiras de aliviar o seu estresse emocional, pois ela te ensina a direcionar a sua imaginação e pensamentos habituais para algo que te faça mais feliz e em paz.
Quando você medita, você dá mais significância para a sua paz e tranquilidade interior, e tira o seu foco do problema ou daquilo que te perturba. Isto reduz os sinais que vão para as suas amígdalas (“perigo!”), e então você se torna menos reativo aos estímulos externos. Você ouve mais e fala menos, cria conexão com os sentimentos e opiniões alheias e se torna mais tolerante.
Não quero dizer que a meditação é uma terra ondes os problemas não existem, mas onde você pode mudar o seu foco do problema para a solução, da ansiedade para o presente, do lamentar para a AÇÃO.
Uma nova maneira de pensar
Com a meditação você estimula todos os tipos de criatividade, inovação e abertura para uma nova maneira de pensar, que te ajudará a resolver a fonte do problema que te aflige.
Veja só como o ato de voltar a meditação me trouxe imediatamente ao meu centro… A momentos atrás eu estava estressado e reativo por conta dos problemas no trabalho e isso despertou o meu “lado negro da força” transformando-se numa intolerância minha ao comportamento de alguns amigos que acabei respondendo numa torrente impensada de discursos “hateristas” baseados no meu “ego”, que com razão rapidamente fui interpelado por alguns deles, e percebendo que eu havia me deixado entrar no piloto automático, me pus a meditar e logo após, em alguns poucos minutos livres de reflexão escrevi este artigo que você está lendo agora.
Quando você se torna menos reativo, você se torna mais calmo e tolerante. Isto te ajuda a interpretar as situações de maneira diferente, e quando você escolhe as respostas conscientemente (ao invés de se deixar levar pelo piloto automático configurado pelas suas amígdalas) você percebe que você está se fazendo mais bem do que a qualquer outra pessoa.
E então, ao meditar e diminuir o nível de atividades nas amígdalas, você também estará perdendo:
- Problemas de relacionamentos: quando você consegue se colocar no lugar dos outros e observar o comportamento das pessoas a sua volta, uma diferente luz se acenderá, te tornando mais compassivo e compreensivo ao ponto de vista dos outros, menos impaciente, nervoso e emocional, e calmamente trabalhará em direção a uma resolução ganha-ganha das discordâncias.
- Problemas de saúde: as constantes respostas ao estresse, resultam na secreção constante de hormônios relacionados ao estresse como o cortisol, aos quais, enquanto podem ser benéficos em níveis controlados, podem também se tornar danosos a sua saúde caso não sejam liberados (lembre-se que o estresse emocional não é facilmente resolvido pois ele realmente existe apenas em sua mente!). Ao balancear as atividades do sistema nervoso simpático (lutar/fugir/paralisar) com as atividades do sistema parassimpático (descansar/digerir/reparar) através da meditação, você não só melhorará a sua saúde de maneira geral, como também te ajudará no seu desenvolvimento físico caso esteja na busca para colocar aqueles músculos a mais, ou até mesmo emagrecer.
- Efeitos das surpresas da vida: quando você aprende a levar as coisas menos a sério, estando presente e menos reativo aos obstáculos indesejados e dificuldades que a vida lança em seu caminho, você se tornará mais feliz e mais capaz de seguir o fluxo sem drama e com muito menos altos e baixos emocionais.
Estas são apenas algumas coisas que você pode perder ao meditar… e você perceberá que uma vez que esteja livre do fardo pesado da raiva, intolerância, inveja, medo e depressão, você se sentirá mais leve, feliz e ainda mais livre!
Aos meus amigos de infância Caio, Leonardo e Diogo, o meu mais sincero obrigado por me alertar e me colocar no meu centro novamente! Sim, eu voltei a meditar!
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