Quando me convidaram a assistir uma corrida de obstáculos, me animei. Depois de ver toda aquela energia, resolvi que iria correr também. Inscrição feita, foi uma longa espera até a semana que antecedeu o evento, e à medida que os dias passavam a ansiedade aumentava mais.
Uma noite de insônia…
A noite anterior foi quase uma eternidade, acordei várias vezes e por fim devo ter ficado deitado pelo menos umas duas horas esperando o alarme do celular. Imagens dos obstáculos e de como seria a melhor maneira de passar por eles fervilhavam na mente. Mas uma coisa não saía da minha cabeça: Como vou subir o Monte Bravus (um halfpipe escorregadio de mais de 3 metros de altura)? Ainda mais agora que está mais alto! Porque fui me inscrever justo na Elite, porque não me inscrevi com os outros na bateria 12? Por fim o alarme toca, são 4:30 da manhã, eu me levanto e um novo pensamento vem à mente: “Por que alguém em sã consciência iria fazer um troço desses?” Mas eu sou ou não sou um Espartano?
Sem muita demora, pego “tudo” o que ia precisar: par de chinelos para pós prova, uma camiseta e bermuda extras, uma toalha velha, batata doce e ovo cozido para o “café da manhã”.
E a ansiedade aumentando.
Quando chego no local da prova, já está amanhecendo e as pessoas vem afluindo. A tensão diminui um pouco, afinal de contas estou entre amigos, não estou mais “só”, onde quer que eu olhe vejo atletas chegando, todos animadíssimos e isso vai diminuindo minha ansiedade e vai me deixando na expectativa do que está por vir.
Finalmente chegou o momento mais esperado!
Finalmente chega o grande momento, vamos para a concentração e ouvimos uma rápida preleção seguida de um aquecimento funcional, já está na hora! Então ele diz: “Prontos? Pra cima do muro!”
Pulamos o primeiro muro e eu penso que se começou com um obstáculo logo de cara a coisa vai ser duríssima, mas pra minha surpresa caímos em uma segunda área de concentração e aí sim posso ver a linha da largada e lá vai mais uma preleção. Mas dessa vez a coisa é séria e depois de uma selfie, que não pode faltar, é dada a largada!
Agora não tem como voltar atrás, o jeito é correr
Os primeiros metros são muito difíceis, terreno ruim para correr, a tensão já subiu ao máximo novamente, onde quer que eu olhe tem atleta tenso tentando disfarçar que está tudo bem. Então descubro que o primeiro obstáculo é a mente, nessa hora a gente fica se perguntando, porque foi entrar numa fria dessas, e vai vendo alguns atletas se distanciando e outros se aproximando, então o melhor a fazer é manter um ritmo confortável, porque sabe-se lá como serão os obstáculos! Na foto e nos vídeos é uma coisa, ali, correndo sozinho, a história é totalmente diferente.
Então depois de cerca de 1km surge o primeiro obstáculo, um muro alto, mas quando chego nele, me lembro da época de criança e passo com facilidade por ele, e dali em diante, fica só a expectativa do que vem pela frente, os temores do que pode vir ou acontecer vão sumindo e a corrida já não é tão difícil como antes, então começo a aproveitar a vista, começo a ver os outros atletas de maneira diferente, com empatia, já não me preocupo mais comigo mesmo, tento ver se alguém está precisando de ajuda, vez por outra passo por alguém dou uma palavra de incentivo, ou sou ultrapassado e recebo um encorajamento, e a diversão começa de verdade. Então chega o temido Monte Bravus e para minha surpresa, passo de primeira. A motivação aumenta: “Agora, nada mais pode me deter”.
Estamos entre os primeiros?!
À medida que os obstáculos vão sendo vencidos, tenho mais força para continuar e em cada obstáculo que chego, é uma enxurrada de gritos de incentivo, que me animam ainda mais apesar de estar cada vez mais cansado. Em alguns momentos encontro meus amigos e corremos lado a lado, como se estivéssemos em um parque, até que vem outro obstáculo e nos separamos novamente, ou eu avanço ou fico para trás, mas nesse ponto, a sensação de solidão não existe mais, afinal eu realmente não estou sozinho, somos uma multidão indo para um mesmo lugar. E quando penso que vou terminar a corrida sozinho, encontro o Atleta Livre Saulo Lauers e seguimos juntos, então algo muito especial acontece, a gente passa perto da área dos espectadores e nossas amigas gritam: “Vai, vocês estão entre os 20!”, aí recobro o ânimo, pra quem pensava em terminar pelo menos entre os 100 e com um pouco de sorte entre os 50, estar entre os 20 era uma vitória sem tamanho!
Por fim chegamos aos últimos dois obstáculos e finalizamos a corrida.
Não preciso dizer que a vontade de voltar lá e correr de novo é indescritível, não sei o que é mais emocionante: A largada com aquela multidão de atletas, passar todos aqueles obstáculos ou finalizar a prova.
Mas de uma coisa tenho certeza: É uma experiência que ficará gravada na mente para sempre, afinal de contas os arranhões não vão deixar cicatrizes, e dinheiro nenhum compra a satisfação de reviver a infância de um jeito tão peculiar.
Está esperando o que?
Se você ainda não correu nenhuma prova de obstáculos, saiba que está perdendo uma grande oportunidade de provar em primeira mão a solidariedade e companheirismo sem segundas intenções tão raras em nossa sociedade. Ali todo mundo é nivelado por baixo, literalmente, todos tem que se rebaixar, literalmente, é um momento em que descobrimos que ainda existem pessoas altruístas, e o esporte é capaz de colocar para fora o que temos de melhor.
É, caro leitor, o esporte tem o poder de transformar as pessoas e de liberar aquilo que temos de melhor no nosso íntimo. Então aproveite o momento, pratique esportes sempre, programe-se para a próxima corrida de obstáculos ou qualquer outro evento esportivo, individual ou coletivo, não perca a chance de encontrar pessoas maravilhosas cheias de boas intenções e ao mesmo tempo deixar registrado um momento inesquecível que ficará gravado indelevelmente não só na sua mente e coração, mas também nas mentes e corações daqueles que estiveram contigo.
Se podemos te dar uma única dica, é… Se você não tem nenhum tipo de vício, este definitivamente seria um que deveria considerar!
E então Espartano, você já é um viciado inveterado em corridas de obstáculos? Se sim, conte-nos como foi sua experiência!