Recentemente saiu uma matéria na Super Interessante que foi divulgada na Exame com o seguinte título: “Correr faz cérebro criar novos neurônios; levantar peso, não”. Será que isso é de todo verdade?
Hoje em dia, em um mural de rede social inundada com tanta informação, realmente fica difícil filtrar as coisas de nosso interesse, incluindo o que presta do que não presta. Neste caso em específico confesso que ao ter me deparado com esta chamada de matéria, antes mesmo de abri-la, tirei inconscientemente uma conclusão: Quem corre é inteligente e os “marombeiros” são burros. É claro, que não me contentei (como infelizmente a maioria faz) com a superficialidade desta informação e resolvi abrir o artigo para ler e me aprofundar, foi quando veio a surpresa! Na verdade, eu já estava esperando algo do tipo…
Cuidado, manchetes podem enganar
Volta e meia nos deparamos com estes tipos de “manchetes” feitas propositalmente para chamar a nossa atenção, o sensacionalismo sempre fez parte da mídia de massa e não seria o contrário no mundo virtual. No entanto, na minha humilde opinião, em matéria de saúde isso é tanto quanto irresponsável. Estes títulos que conduzem o leitor a tirar conclusões precipitadas e muitas das vezes errôneas sobre um determinado assunto são de uma falta de tato sem fim, pois sabemos que a maior parte das pessoas nem se quer abrem os artigos para lê-los!
Cabe a nós então, reles mortais, fazer o trabalho de formiguinha tentando alertar as pessoas quanto a importância de não acreditar na primeira coisa que leem e procurarem se aprofundar analisando friamente o assunto para tirar suas próprias conclusões.
Leia e tire suas próprias conclusões
A matéria em questão nos leva a concluir que tais títulos em sua maioria revelam uma interpretação errada do tema pelo redator, pois se analisarmos friamente a interpretação do texto e prestarmos atenção no trecho: “Estresse é comumente considerado um inibidor na neurogênese adulta”, logo podemos interpretar que a execução de uma atividade prazerosa poderia ser uma das causadoras do aumento das células cerebrais, afinal, os outros 2 grupos (Crossfit e Levantamento de peso) eram estressantes por si só, já que os pobres ratinhos até choque levavam para que agissem da forma como os pesquisadores queriam, enquanto que os ratos que apenas corriam na esteira o faziam por livre e espontânea vontade, e, de acordo com a própria pesquisa, “o estresse pode estar relacionado com o fato das células não se reproduzirem nos outros dois casos”.
Para não me estender ainda mais nessa brincadeira de “advogado do diabo”, é fácil observar a clara falta de coerência entre o texto e seu título. E olha, que nem vou entrar no mérito da imensa discrepância entre as conclusões retiradas do texto da Super Interessante com o artigo do site americano Fastcoexist que eles mesmo referenciaram no final… Questione e tire suas próprias conclusões, vou repetir isso sempre! Como grandes fãs desta modalidade esportiva, todos nós sabemos dos inúmeros benefícios da corrida para a nossa saúde física e mental, porém que fique claro que nossa pretensão com este texto não é a de questionar a confiabilidade desta pesquisa ou de soarmos arrogantes, mas sim alertá-los de quão importante é lermos tais matérias antes de se quer compartilhá-las, e não vou mentir, já fiz muito isso no passado até desenvolver um pouco de senso crítico.
As pesquisas e teorias são empíricas e válidas até que alguém prove o contrário
Ainda vale ressaltar que quem tem um pouco de esclarecimento sabe que os estudos e pesquisas científicas conduzidos em diversos laboratórios e universidades pelo mundo, são um tanto quanto controversos, principalmente se tratando de assuntos que envolvem a fisiologia humana, que afinal ainda não é (e talvez nunca seja) uma ciência exata como a matemática, e, ainda piora o quadro de precisão se pararmos pra pensar que muitos destes testes são conduzidos em animais, e não em seres-humanos. É claro que não podemos negar os grandes avanços e quebras de paradigmas no campo científico, mas cabe o bom senso de não tomar tais conclusões como uma verdade absoluta, já que a própria ciência parte do pressuposto da dúvida (Falseamento).
Estas pesquisas utilizam-se de ferramentas providas pela Metodologia Científica que tem sua origem no pensamento de Descartes, que foi posteriormente desenvolvida empiricamente (baseado na experiência e na observação) pelo físico Isaac Newton e propõe chegar à verdade através da dúvida sistemática e da decomposição do problema em pequenas partes, características estas que definiram a base da pesquisa científica.
Confie desconfiando nas pesquisas cientificas
É importante ter em mente que as pesquisas científicas se relacionam com modelos, com uma constelação de pressupostos e hipóteses, escalas de valores, técnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade científica num determinado momento histórico, ou seja, um paradigma é válido somente à época de sua consideração. Não apenas recentemente mas desde os primórdios a metodologia científica tem sido alvo de inúmeros debates de ordem filosófica, sendo criticada por vários pensadores aversos ao pensamento cartesiano. Karl Popper, por exemplo, afirmou que a ciência é um conhecimento provisório, que funciona através de sucessivos falseamentos. Por mais contraditório e assustador que seja, uma teoria científica nunca é provada completamente, já dizia ele.
E não se esqueça, não saia por aí correndo sem orientação profissional e preparo muscular, pois por mais que você queira ser muito inteligente, você ainda vai precisar “levantar peso” para fortalecer os seus músculos adequadamente para correr bastante e virar um super gênio! hahaha
E então Espartano, depois desse balde de água fria… Afinal, qual é a sua opinião? No final o nosso propósito com este artigo é instigar o seu espírito questionador, antes de você aceitar qualquer informação que venha encontrar pela internet.
Referência bibliográfica: