Pular de paraquedas de um arranha-céu, descer de skate em uma mega rampa, saltar mais de 20 metros de uma ponta de um desfiladeiro a outra em uma bicicleta. Todos esses feitos belíssimos parecem impossíveis para meros mortais, são verdadeiros feitos sobre humanos… Mas como atletas de esportes de aventura fazem isso?
Bem, todos esses homens e mulheres possuem algo em comum, além do fato de serem loucos, é claro!
Tais feitos as vezes nos fazem pensar:
O que está passando na cabeça dessas pessoas enquanto estão fazendo tais coisas?
E se eu te disser que eles não tem absolutamente nada passando em suas cabeças?
Por favor, não me entendam mal! Eu não estou dizendo que estes atletas de esportes extremos incrivelmente talentosos são algum tipo de idiota inconsequente.
O que na verdade estou tentando dizer é que estes atletas estão tentando atingir tais feitos épicos ele estão em um estado mental extremamente focado, concentrado, completamente no momento presente, com uma clareza e vazio mental para fazer as melhores escolhas e decisões se algo der errado, do contrário eles morrerão.
Deixe-me tentar explicar isso um pouco mais profundamente…
Acredite ou não, um atleta também tem a sua própria zona de conforto, claro que essa zona para um atleta é diferente da zona de conforto para um tipo de pessoa sedentária, pois para o último tipo de pessoa a zona de conforto significa estar inerte, sem fazer nada, procrastinado ou sem movimento, enquanto para os atletas a zona de conforto já é o próprio movimento.
Quando o atleta está na zona de conforto, ele não está evoluindo, ele não tem grandes desafios ou adversários superiores, então ele atinge um platô e não pode continuar crescendo. Os atletas precisam de tantos desafios quanto precisam de ar para sobreviver, eles tiveram que ultrapassar suas próprias limitações e superar os obstáculos todos os dias se quiserem estar no topo de seu jogo.
Somente quando o fazem, saem da zona de conforto entrando em outra zona que chamamos de zona de expansão, também conhecida como zona de aprendizagem. Nessa zona o atleta está crescendo continuamente, o plateau é derrotado, então eles continuam evoluindo enfrentando melhores oponentes, distâncias mais difíceis ou desafios ainda mais perigosos. Na zona de expansão, os atletas de esportes radicais sempre colocam suas vidas em risco para que possam bater seus próprios recordes ou de outras pessoas.
Quando o desafio é tão alto quanto o seu nível de habilidade, tais atletas entram em um Estado Mental poderoso que alguns especialistas chamam de “Estado de Fluxo”. Em tal estado, o atleta tem uma enorme autoconfiança em suas habilidades, sabendo que o risco é alto, mas ele está preparado para enfrentá-lo. Esse tipo de atleta não dão espaço para o medo ou a ansiedade, eles sabem o que fazer e como fazer. Claro, eles também sentem medo e por isso a sua adrenalina fica alta, mas eles também estão animados.
Eu não consigo imaginar uma definição melhor do Estado de Fluxo além da que o Shaun White, um famoso Snowboardes, disse a um repórter quando perguntando sobre o que ele estava pensando quando fez uma manobra quase impossível que deu a ele a Medalhe de Ouro nos Jogos Olímpicos de Inverno em 2010 em Vancouver, Canadá.
Ele disse:
Neste momento, você sabe, eu não estava realmente pensando em nada, eu estava muito focado e alerta, mas ao mesmo tempo eu não muito preocupado com o que iria acontecer. Eu apenas deixei a manobra acontecer enquanto eu estava me sentindo completamente no momento presente, mas ao mesmo tempo me vendo em câmera lenta, como se eu quase estivesse fora do meu corpo.
Esta definição dada por Shaun White também tem uma boa analogia com um instrumento de cordas que eu gosto de usar para ajudar as pessoas a entenderem melhor oas sensações por trás do Estado de Fluxo (Flow) – quando você está afinando seu violão se deixar o cabo solto demais ele não fará som nenhum, se você apertar demais, pode quebrar.
No estado de fluxo, você alcança o desempenho máximo apenas quando não está muito tenso ou relaxado demais, o segredo é o caminho do meio, ao mesmo tempo em que tem uma atitude positiva e está presente no momento, totalmente focado na tarefa à frente.
Mas neste caso, se você der espaço para os pensamentos, sentimentos negativos, se você der espaço para o medo e ansiedade você pode acabar entrando no que podemos chamar de Zona de Pânico, e esta zona é definitivamente um lugar onde você não deveria querer estar. E a razão é apenas uma: na Zona de Pânico, você pode morrer.
A Zona de Pânico
Nesta Zona do Pânico, você sai do olho do furacão, que ainda é o lugar central e calmo de decisões claras e ações corretas no meio do caos. Quando isso acontece, você entra no piloto automático onde você para de agir e começar a reagir. Neste lugar de medo, ansiedade, sentimentos negativos e pensamentos, você está de volta ao seu modo de sobrevivência, onde o sistema nervoso simpático assume o volante do seu carro e você senta no banco do carona só assistindo ele dirigindo perigosamente tomando decisões por você.
Com tanta tensão em seu sistema nervoso enquanto enfrenta um desafio grande e perigoso você tem apenas duas opções: LUTAR ou FUGIR…
Mas no contexto de um esporte radical, se você fizer isso, é mais provável que você morra tentando se tornar uma lenda, ou quem sabe uma notícia de última hora.
Imagine-se descendo em seu skate ou bicicleta em uma velocidade acima de 80 km/h através de uma rampa de 30 metros de altura em um “beco sem saída” lançando você através de um longo penhasco ou carros em chamas… Uma vez que você desce você não pode pensar em qualquer coisa, você não pode dar espaço ao medo ou à ansiedade, porque se você fizer isso você entrará em pânico, e se você entrar em pânico você reagirá quase instintivamente tentando parar ou pular do seu skate no meio da rampa e certamente o resultado não será tão bom.
É claro que, no contexto de uma pessoa normal, a resposta do modo de luta ou fuga pode causar um enorme impacto negativo em nossa saúde e até nos levar a uma morte lenta por conta das doenças psicomatizadas em nosso sistema devido a exposição ao estresse crônico, mas no contexto de um esporte radical, pode matá-lo imediatamente ou pelo menos ferir-se gravemente. É como jogar uma roleta russa enquanto pratica seu esporte favorito.
Instinto de Sobrevivência = Modo de Luta ou Fuga
Na Zona do Pânico, ativamos nosso instinto de sobrevivência, uma encarnação física primordial da resposta de luta ou fuga. Mesmo antes de um perigo ser detectado pela nossa mente consciente, nosso corpo começa a se preparar para enfrentar esse perigo – nosso coração acelera e começa a bombear mais sangue para as nossas veias inundando os nossos músculos e tecidos com oxigênio e outras substâncias, incluindo adrenalina.
Energia residual também é enviada para os nossos músculos vinda de outros órgãos onde o seu uso é desnecessário para aquele momento de reação perigosa, então desligamos órgãos responsáveis pelo nosso sistema digestivo, metabólico, imunológico e excretor. E o que achamos que é apenas psicológico também é fisiológico, porque esse sentimento, essa sensação de pânico de respiração superficial, desespero e medo está na verdade preparando nosso corpo para nos proteger do inimigo externo, fugindo dele ou combatendo-o.
No passado, esse sistema biológico acionado automaticamente era muito valioso para nós mesmos. Muitos escritores adoram usar referências da idade da pedra, mas se você pensar no alvorecer de nossa sociedade até a história recente, um mundo enfurecido ou amedrontado pelas guerras, também usamos esse sistema para nos proteger.
Naquela época, nós reagimos fisicamente, mas na sociedade moderna de hoje, essa reação física é inadequada, não podemos reagir fisicamente em pequenos acidentes de trânsito sendo agressivos com os responsáveis, não podemos nem lutar com os nossos chefes, senão perderemos os nossos empregos, mesmo no mundo dos esportes foi comprovado que as melhores performances não são atingidas apenas pela adrenalina.
Então, o que fazemos hoje é enjaular esse tigre dentro de nós e, ao fazê-lo, esse sentimento se torna uma forma crônica de estresse que recentemente se provou ser muito prejudicial à nossa saúde. Causando muitas doenças como depressão do sistema imunológico, dores de cabeça, dores crônicas, pressão alta, ataques cardíacos ou até mesmo câncer.
Equilíbrio Entre o Desafio e a Habilidade
Mas voltando ao contexto dos esportes, esse modo de luta ou fuga é acionado quando o desafio está muito além de nossas capacidades. Isso afeta nossa tomada de decisão porque o medo obscurece a nossa visão e nós reagimos pensando apenas em fugir do perigo ou lutar contra ele sem pensar. Logo, em um esporte coletivo e competitivo, por exemplo, você pode derrotar seu oponente no chão e até mesmo ser expulso do jogo.
Quando falei em reagir é exatamente isso o que significa: você apenas reage sem pensar nas consequências enquanto as coisas acontecem. Você não prevê o resultado escolhendo o melhor curso de ação.
Enquanto navega em uma onda gigante, por exemplo, você não pode pensar duas vezes para mergulhar na onda, se ela ficar muito grande você não terá tempo suficiente para sair dela, então você precisa estar presente e prever o resultado enquanto navega nela, e que somente o Estado de Fluxo pode lhe dar.
Se você quiser alcançar o máximo desempenho em seu trabalho, ofício, jogo ou esporte, você precisa se tornar o fluxo. E para isso você precisa estar fisicamente e mentalmente preparado, e antes de se jogar em uma rampa ou precipício, você precisa se ancorar no momento presente. Conseguir isso é simples e complexo ao mesmo tempo.
Primeiro você precisa treinar a sua mente diariamente para ficar acostumada com a sensação de estar vivendo no momento presente e encontrar a sua paz interior e, finalmente, antes do desafio, você pode entrar no olho do furacão hackeando a sua fisiologia!
Pare, olhe e simplesmente RESPIRE. Uma respiração ritmicamente uniforme e através do seu coração todos os dias, e apenas vá!
Bem vindo ao fluxo!
Quer aprender uma forma de habitar no meio do olho do furacão e viver no Fluxo?